terça-feira, 14 de maio de 2013

"Chuva interna".

Martim entrou e a casa estava vazia, Alana havia levado tudo, as roupas os enfeites, a mobilha, o cachorro e uma promessa de vida. Mas deixou os porta-retratos, todos, espalhados pela casa... Por que?
Percorreu todos os cômodos e de fato o apartamento estava limpo. Com as janelas escancaradas, o vento circulava desimpedido por todo o espaço. Sentado no chão, no centro da copa, Martim visualiza as paredes pintadas por Lana, corações tortos e espinhas de peixe desordenadas. Ele achava simplesmente lindo a maneira desajeitada que a garota tinha para a decoração. No celular ele quis materializar alguma lembrança sintonizando a música que ouviam quando se amavam, The Bangles "Eternal Flame". Com as mãos no rosto ele tentava fazer como o clima lá fora, ele queria chover forte, para que assim o dia amanhecesse ensolarado e limpo. Mas seu corpo quente e seco não apontava sinal de umidade.
Os flashes passavam velozes pela sua cabeça, o primeiro encontro, o beijo... Outros dolorosamente devagar como, o casamento, a gravidez. Nessa hora Martim grita e sua voz não sai, levantou se e no intuito de achar vestígios, respostas ou apenas consolo. Corre pelos cômodos tropeça nos moveis, avista o cachorro, toca nas roupas... Estava tudo ali, a matéria, as digitais, o calor na cama evaporando calmamente.
Ela havia levado apenas tudo o que ele necessitava, seu coração e seu sopro de vida.
Ao lembrar do acidente, a chuva caiu forte pelo seu rosto e ele pôde sentir, bem lá no fundo...
De dentro do seu peito, elas não conseguiram partir jamais.


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